Gosto de falar daquilo que vejo e ouço por mim, não pelo que me dizem ou pela opinião publicada.
Por isso decidi assistir hoje à apresentação pública do candidato do PS à autarquia de Bragança, de seu nome Carlos Guerra.
Mas não só.
Estive presente porque decidi fazer o meu projeto de vida na capital do distrito e não concordo com uma boa parte daquilo que é chamada de "estratégia" da equipa que gere os destinos desta autarquia, que agora também é a minha.
Note-se, para memória futura, que não aceito sequer considerar como estratégia aquilo que se passou durante estes últimos quatro anos em Bragança (e eu até sou muito tolerante nesta matéria). Podia até nem concordar com ela, mas, reconhecendo uma estratégia, saberia democraticamente aceitá-la. Não é o caso e quem aqui vive sabe muito bem disso.
Também não utilizei a expressão "equipa que lidera os destinos da autarquia" propositadamente. Esta assumpção implicaria necessariamente uma estratégia. Não havendo uma, não pode existir uma liderança política. Ficamos assim com uma gestão corrente dos destinos municipais.
Mas enfim, essas são "contas de outro rosário" e a esse assunto voltarei mais tarde.
Como dizia, estive presente para escutar aquilo que serão as linhas mestras desta candidatura, mas tinha algumas curiosidades próprias das quais esperava algum tipo de abordagem (e não necessariamente pela ordem que as apresento):
- Esta candidatura do PS é um projeto "para cumprir calendário" ou efetivamente existe uma vontade genuína de apresentar um projeto alternativo aos eleitores;
- Para o PS, a atual situação económica e de emprego mais favorável que se vive em Bragança merece, ou não, uma reflexão profunda e a preparação de um plano alternativo caso alguma coisa corra mal (e que espero sinceramente nunca vir a ser preciso);
- Existe algum fio condutor para as propostas às eleições (em especial propostas exequíveis e efetivamente necessárias) ou simplesmente irá ser uma campanha destinada a "lavar roupa suja", como foram tantas anteriormente;
- Interessa ao PS manter o status quo político atual, obrigando, por exemplo, as juntas de freguesia a pedincharem qualquer tipo de apoio por parte da autarquia;
- Qual o nível de participação e intervenção cívica que o PS pretende para a capital do distrito.
De algumas obtive as respostas que esperava, de outras nem tanto. Mas devo reconhecer que não posso deixar de concordar com aquilo que ouvi. Os principais pontos a reter, para já:
- Pelo menos não será uma candidatura para fazer um frete a ninguém. O agora candidato assumiu que, mesmo não ganhando (o que será provável), assumirá o seu lugar no executivo;
- Assumiu-se ali o compromisso de apresentar apenas propostas e ideias praticáveis e exequíveis, com a devida cabimentação financeira, quer para a autarquia quer para as juntas de freguesia. Atendendo à aparente saúde financeira do município, isso pode dar para muita coisa, mas pelo menos é um princípio;
- Pela própria voz do agora candidato escutei a constatação da campanha opressora que tem vindo a ser efetuada aos representantes das juntas de freguesia e a sua intenção expressa de mudar esse cenário. Faltou uma explicação cabal da forma, mas pelo menos demonstrou conhecer essa realidade;
- Pretende fomentar a participação cívica desde já, inclusive na formação do seu programa eleitoral, assim como promover um orçamento cada vez mais participativo. Veremos se as suas próximas ações suportam estas palavras;
- Será evidente a aposta nos recursos endógenos e ambientais, assim como no património histórico e cultural. Por outras palavras, no Turismo. Uma vez mais, faltaram exemplos, mas isso se verá depois.
O que não gostei especialmente?
- Acima de tudo, nem uma palavra expressa para aquilo que eu entendo ser o principal problema que Bragança poderá enfrentar a médio prazo: uma crise no cluster automóvel, que atire para o desemprego centenas ou milhares de pessoas. Continuo a considerar fundamental ter um plano alternativo, esperando que nunca venha a ser necessário.
- Ainda que tenha toca muito ao de leve no assunto (ao pretender recuperar a centralidade do distrito para Bragança), faltou um assumir claro de uma inversão de paradigma: este distrito só consegue subsistir enquanto tal se tiver em Bragança, a sua capital, um motor suficientemente forte para influenciar as políticas centrais e definir as regras do jogo! Todo o distrito beneficiará disso e é preciso que todos os transmontanos percebam que têm de se unir em redor de Bragança e Vila Real, dando-lhes assim força que possa garantir a influência necessária para definir as políticas de ordenamento territorial e de distribuição dos recursos do estado mais favoráveis para esta região.
- Também não achei particularmente adequada a escolha do local para a apresentação da candidatura. Bem sei que a candidatura é do PS e que a nova sede tem um auditório (com capacidade para umas 50-70 pessoas, talvez), mas era suposto que uma apresentação pública de um candidato a um município com mais de uma centena de aldeias e quase quarenta freguesias tivesse, pelo menos, duas a três pessoas por freguesia. Isso seria suficiente para encher um auditório bem maior, num dos espaços nobres da cidade. Aliás, pela quantidade de pessoas que estavam de pé, certamente estariam no espaço entre 120 a 180 pessoas, (sinceramente não as contei). Das duas uma: ou estavam com medo de um possível fiasco (e vi várias pessoas de fora) ou esta apresentação foi pensada de forma algo atabalhoada e preparada "muito em cima do joelho". Qualquer que seja o motivo, não me pareceu muito bem.
Devo ainda confessar que não gostei nada de registar a ausência do atual Secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes. Escutei a sua mensagem, o apoio expresso que deu e os seus argumentos para estar ausente, mas "porra, isto não é faz"... se quisesse mesmo estar presente, pedia para marcarem esta apresentação pública noutra data. Para mim foi simplesmente falta de consideração.
Também fiquei aqui com "a pulga atrás da orelha": o candidato referiu o seu percurso pessoal e profissional, mas aparentemente este terminou desde 2009-2010 (quando foi gestor do PRODER). Então e de lá para cá? Pode parecer curiosidade minha, mas não é. Se não fez nada desde então, surgirá logo a pergunta: «então tem vivido do quê?». Se tem trabalhado, surgirá logo a pergunta: «tem vergonha daquilo que tem feito ou não tem feito nada de relevante?». Em ambos os casos, não me parece boa ideia deixar estas coisas ao acaso.
Bem, aguardemos agora a apresentação pública de mais candidatos, para tecer aqui as minhas considerações.
Pode ser que ainda venham a existir boas surpresas, sei lá.
C'moquera...
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